Quanto mais quero fazer algo, menos considero o trabalho.
Richard Bach, Illusions.
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
Viver não dói - Drummond
Definitivo, como tudo o que é simples,
nossa dor não advém das coisas vividas,
Por que sofremos tanto por amor?
Sofremos, não porque nossa mãe é impaciente conosco,
Sofremos, não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.
Como aliviar a dor do que não foi vivido?
A dor é inevitável;
nossa dor não advém das coisas vividas,
mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.
Por que sofremos tanto por amor?
O certo seria a gente não sofrer,
apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana,
que gerou em nós um sentimento intenso
e que nos fez companhia por um tempo razoável,
um tempo muito feliz.
um tempo muito feliz.
Sofremos por quê?
Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado
e passamos a sofrer pelas nossas projeções não realizadas,
por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor
e não conhecemos,
por todos os filhos que gostaríamos de ter tido juntos e não tivemos,
por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado,
e não compartilhamos...
Por todos os beijos cancelados ou postergados pela eternidade.
Sofremos, não porque nosso trabalho é desgastante, chato ou paga pouco,
mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema,
para conversar com um amigo, para nadar, para namorar, para compartilhar com alguém que gostamos...
Sofremos, não porque nossa mãe é impaciente conosco,
mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando com ela nossas mais profundas angústias e ela estivesse interessada em nos compreender.
Certamente estaria…
Sofremos, não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.
Sofremos não porque envelhecemos,
mas porque o futuro está sendo confiscado de nós,
impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam,
todas aquelas com as quais sonhamos enunca chegamos a experimentar.
Como aliviar a dor do que não foi vivido?
A resposta é simples como um verso:
Iludindo-nos menos e vivendo mais!!!
A cada dia que vivo,
mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos,
nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca,
e que, esquivando-se do sofrimento, faz perder também a felicidade.
A dor é inevitável;
o sofrimento é opcional.
Carlos Drummond de Andrade
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